CONHEÇA LUH MAZA, PRIMEIRA ROTEIRISTA TRANS NEGRA DA TV BRASILEIRA

Recentemente, em entrevista a revista Cláudia, Luh Maza contou que a coxia do teatro serviu de morada para a inquietação de uma menina carioca, de Olaria, subúrbio do Rio de Janeiro, aos 12 anos. Filha de um bombeiro e uma professora, a multiartista Luh Maza nasceu em uma família com pouca estrutura financeira, mas que nunca podou seus sonhos. Pelo contrário, a troca com a arte só aconteceu, segundo ela, graças ao apoio dado pelo núcleo familiar.

“Sempre fui muito ao teatro com a minha mãe. Com 12 anos, comecei a estudar teatro e me encontrei nesta arte de me comunicar por meio de personagens e histórias, que sempre me aventurei a escrever ainda na infância”, lembra Luh, que hoje coleciona trabalhos como diretora, roteirista, atriz e escritora. Antes de chegar ao audiovisual, a fluminense se fortaleceu primeiro na dramaturgia. Aos 16 anos, com o financiamento das economias da avó e a força de produção totalmente familiar, Luh estreou sua primeira peça teatral.

De lá para cá, ela se desdobrou com maestria em diversas funções. “Sou atriz, diretora, dramaturga, iluminadora, cenógrafa, já fui crítica de teatro também. Existir e crescer na cultura com esses marcadores sociais já eram fatores desafiadores para Luh. Mas um chamado interno, provocado por um convite do diretor Rodolfo García Vazquez para fazer uma peça sobre identidade de gênero, falou mais alto.

“Passei a entender melhor meu gênero dos 18 para os 20 anos, mas tinha muito medo. O convite do Rodolfo para o espetáculo Cabaré me colocou em contato com outras sete pessoas trans e foi aí que me entendi”, lembra. Na família, a transição trouxe afastamentos de alguns parentes, mas a sua base se manteve sólida. “O acolhimento da minha mãe e da minha avó foi total. A gente discute quando erra um artigo, mas tem um amor para tentar acertar. Isso é o que importa”, explica a neta da dona Cleia e filha da Ana Lúcia.

Sua estreia foi em Sessão de Terapia, na Rede Globo, graças a um convite da autora da produção, Jaqueline Vargas. “Escrevi um roteiro para o personagem Nando, um homem negro que passava por problemas no casamento. Foi interessante, porque tinha acabado de entrar no meu processo de reconhecimento enquanto mulher e revisitei o tema da masculinidade com outra perspectiva”, comenta. Após a atuação na série, ela ainda integrou produções da Netflix e Globoplay.

O movimento que a roteirista procura fazer na telinha já é praticado por ela há muito tempo no teatro. Além do pioneirismo na televisão, Luh é a primeira autora e diretora trans convidada pelo Theatro Municipal de São Paulo. O convite foi aceito com uma condição: levar mais dez atrizes trans para estrelar a sua peça Transtopia, exibida em 2019.

”Essa epígrafe com ‘primeira roteirista, primeira diretora’ mostra como demorou para uma identidade humana ocupar um lugar de fala. É assustador, mas vale lembrar que não começou comigo. Pessoas trans

e pretas lutaram para eu estar lá e muitas que lutaram antes de mim não conseguiram esse reconhecimento. Recebo esses títulos com respeito pelos que vieram antes e pelos que vão vir, até que esse número não faça sentido. A representatividade só acontece quando é coletiva”, aponta.

Siga o Alguém Avisa no seu Canal no YouTube e confira conteúdos especiais.