AMARA MOIRA FALA SOBRE A RESISTÊNCIA ÀS NARRATIVAS TRANS NO MOVIMENTO LGBTQIA+

Amara Moira é travesti e doutora em crítica literária pela Unicamp e recentemente, em matéria para o BuzzFeed, onde é colunista, publicou trechos de um estudo sobre a resistência às narrativas trans no movimento LGBTQIA+ ao longo da história.

Confira trecho do material:

Se engana quem olha a sigla LGBTQIA+ (ou quaisquer que sejam as letras ou ordem que ela tenha) e acredite que todo mundo que faz parte dela se dá bem, se entende pencas. Nananinanão, o que não falta é tensão e um dos pontos que, atualmente, tem me interessado resgatar é o tortuoso caminho para que as narrativas trans começassem a fazer sentido dentro dela.

O princípio de uma organização política da dissidência sexual e de gênero se deu no fim dos anos 1970, sob o nome de “movimento homossexual”, e tentou-se fazer dessa palavra um guarda-chuva para todas as experiências LGBTQIA+. Na prática, porém, a despeito do desejo de unificação da categoria, salta aos olhos o quanto a incompreensão se fazia presente nesses primeiros passos do movimento, sobretudo no que diz respeito a travestis e transexuais.

No pioneiríssimo jornal guei Lampião da Esquina, publicado entre abril de 1978 e julho de 1981, não faltam, por exemplo, matérias apontando as travestis como a parcela mais atingida pela máquina de repressão do Estado, durante a Ditadura. No entanto, quando o jornal se propõe a analisar a figura da travesti, vemos o quanto a cisgeneridade, mesmo guei, se sentia profundamente incomodada por aquela existência.

Fato que não passou batido às leitoras travestis do jornal, como se pode ver por uma carta publicada na edição 18, de novembro de 1979: “Travesti protesta”. A autora, que se identificou como Bamby de Azevedo, dentre outras coisas, afirma ali:

Eu acho o preconceito contra os homossexuais uma coisa descabível, mas infelizmente eu sou travesti e sinto isto na carne. Portanto, eu gostaria de pedir que se vocês não puderem dar as mãos aos travestis pelo menos façam silêncio em relação a nós e não façam comentário do tipo: “O interessante desta festa do Miss Gay é que os rapazes estavam numa boa, não usavam silicone e pelo que parece não sonham em virar mulher”, e se sonhassem? Seria crime tentar realizar seus sonhos através do silicone e outras coisas? A outra frase: “É bom lembrar que todos saíram do clube sem querer ser travesti”. Não queriam ou não tinham coragem? Como ainda tem muita gente que não tem coragem de ser homossexual e por isto é infeliz.

Confira a matéria completa aqui.

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