ESPECIAL MÊS DO ORGULHO ALGUÉM AVISA, COM: ATENA BEAUVOIR ROVEDA

Em Junho ao redor do mundo todo é celebrado o mês do orgulho LGBT. A data se tornou representativa após o início dos movimentos iniciados em Nova Iorque. O mês faz referência à revolta de Stonewall, ocorrida em 28 de junho de 1969, quando um grupo de LGBT’s resolveu enfrentar a frequente violência policial sofrida pelos homossexuais. Por isso, neste mês tão importante reunimos algumas entrevistas de pessoas que fazem parte da comunidade, para falarem sobre a data.

Nossa entrevistada hoje é: Atena Beauvoir Roveda, escritora, professora, poeta, educadora social, presidente municipal do PDT Diversidade, coordenadora da Rede Municipal de Jovens Vivendo com HIV/AIDS e pré candidata a vereadora para mandato coletivo na capital gaúcha. Confira abaixo a entrevista:

1 – O que é orgulho LGBT para você?

É representar a própria vida humana na sua diversidade, respeitando as existências plurais de cada homem cisgêneros gay e bissexual ou mulheres cisgêneras lésbica e bissexual ou homens e mulheres transgêneros, transexuais e mulheres travestis, das pessoas trans não binárias e não podemos esquecer do movimento brasileiro de pessoas intersexuais que igualmente estão envolvidas nos processos de resgate da suas dignidades humanas brasileiras. Ter orgulho LGBTI+ é saber que mesmo estando todas e todos nessa sigla, ela não comporta tamanhas diferenças de sofrimentos, dores e destinos. 

2 – O que você diria para quem nesse momento está em uma situação de medo?

O medo na mitologia grega se chama Fobos e é um semideus, filho de Ares, Deus da Guerra. É importante lembrarmos que da mesma forma que a violência é um estado de revolta, justiça ou corrupção, o medo é um  estado de ignorância frente aos movimentos autoritários de muitos por aí. Se você sente medo, de qualquer perspectiva, pessoal, emocional, profissional, social, econômica, busque ter apoio de pessoas que gostam de você, tenha conhecimento de que você é amada ou amado por alguém. Saia da ignorância e do desconhecimento de que não lhe amam. Saber que se é amada e amado, mesmo que o medo não desapareça, nos fortalece a lidar com ele.

3 – O que você deseja para 2020 e o que acha ser necessário fazer para que isso aconteça?

Eu desejo que cada pessoa LGBTI+ que se candidatou a um cargo de vereador ou vereadora, prefeita ou prefeito, tenha formado um amplo grupo de apoio e que se fortaleça para o embate nesse momento político social. Que consigam ter expressivos votos e que entendam que não é a posição de ser LGBTI+ que os farão serem eleitos e eleitas, mas a construção desde antes de suas relações com as dores sociais de muitas e muitos. Estou, particularmente, pré candidata a vereadora da cidade de Porto Alegre/RS pelo PDT. Sou presidente do PDT Diversidade Municipal e tenho lidado com as incongruências da política cisgênera que pensa que alguém pode representar um coletivo todo. Nossa proposição de candidatura é coletiva, unindo comigo, outras 3 pessoas, todas LGBTS, duas negras e duas brancas; três soropositivas; duas mulheres e dois homens; e todas nós pobres, sem vínculos com nenhum poder econômico que nos sustente senão o trabalho e as posições de uma vida sem tamanhos privilégios. Quando chegarmos a candidatura, vamos lançar cada nome e construir uma visão de sentido coletivo, porque não acreditamos em um líder ou uma líder, acreditamos numa força social que se demonstre com os corpos presentes, com as existências presentes, com as vontades presentes. Se todo poder emana do povo, é ingenuidade pensarmos que uma pessoa sozinha poderá carregar tal poder. 

4 – O que não podemos mais tolerar?

Não podemos mais tolerar pessoas cisgêneras falando frente a causa de pessoas transgêneras, transexuais e travestis. Pesquisadores e pesquisadoras acadêmicas das diversas áreas que nos estudam e nos pesquisam, sem discutirem seus próprios lugares de existência cisgênera, muitas vezes pessoas gays, lésbicas e bissexuais ou pansexuais, e sem nenhum vínculo pessoal ou familiar com pessoas trans, nos tratando como ratos em laboratórios da existência e muitos ganhando os frutos de crescimento acadêmico ou econômico através não da pauta trans, mas das existências trans que quando nunca são valorizadas, e que recebem esses tipos de pesquisas como simples esmola afetiva em uma sociedade que NUNCA as dá atenção e escuta. Eu percebo ser muito engraçada essa questão, porque pessoas se sentem ofendidas, quando falo isso. Mas não percebem que essa minha posição não é para uma pessoa em particular. É para um tipo de identidade que se vincula ao privilégio de pessoas cisgêneras, que mesmo que elas saibam que é antiético e imoral tal pesquisas, continuam alimentos esse sistema de regime existencial cisgênero.

5 – Quem é a sua maior referência no mundo LGBT?

Cada pessoa trans que eu já tive contato é uma referência. Merece meu respeito e apreço, ainda que muitas vezes não concorde com atitudes, formas de ver o mundo ou de agir no mundo, o único poder que eu tenho é o de lidar com as minhas inseguranças e intimidades. E eu o faço, através da aprendizagem que se gera ao ter em cada pessoa trans porto alegrense, gaúcha, brasileira ou de fora do nosso país, uma referência de existência.

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