RAQUEL E ASSUCENA ANALISAM O MERCADO DA MÚSICA DIANTE DE ARTISTAS TRANS

“A Gal Costa foi a responsável por jubilar As Bahias e a Cozinha Mineira”, conta a cantora Assucena Assucena sobre o nascimento da banda. Ao lado da outra voz feminina do grupo, Raquel Virgínia, ela se sentou frente a frente com a jornalista Fabiane Pereira em uma tarde antes de a OMS decretar a pandemia do novo coronavírus. A reunião resultou em uma entrevista franca, politizada e consciente ao canal de YouTube Papo de Música (assista aqui). Entre os tópicos da conversa, a dupla falou sobre os processos criativos do grupo, a descoberta do feminino e ainda levantou questionamentos da rotulação de artistas LGBTQI+ no mercado da música.

“Se você coloca a gente no line-up do seu festival, automaticamente você está escolhendo ter artistas trans na sua programação. O quanto isso atrai ou afasta um público? (…) Você vai ter que sustentar isso. Será que você quer que o seu evento tenha características LGBTs?”, analisa Raquel Virgínia. “Se você chamar o Emicida, o Rashid e o Baco Exu do Blues para um festival, por exemplo, ele segue sendo um festival, enquanto se você convidar a gente, a Liniker e a Linn da Quebrada, vira um evento LGBT. Então os garotos continuam sendo universais”, pensa. Assucena completa: “Mesmo eles representando apenas um gênero musical (e nós não)”.

Raquel Virgínia e Assucena Assucena se conheceram na USP, em um período em que cursaram História na instituição. Foi ali também que elas cruzaram o caminho do músico Rafael Acerbi, que completa a formação da banda As Bahias e a Cozinha Mineira.

No papo com Fabiane Pereira, elas contaram sobre o processo criativo do seu disco mais recente, intitulado Tarântula (2019). O trabalho teve como ponto de partida e inspiração um filme de Rita Moreira, chamado Temporada de Caça, sobre a Operação Tarântula, que institucionalizou a violência policial para perseguir a população LGBT na cidade de São Paulo. “Por que não se apropriar de uma alcunha que poderia ser o nosso assassinato, a supressão da nossa beleza, o motivo do nosso esconderijo? Tarântula foi uma apropriação conceitual mesmo”, finaliza Assucena Assucena.

O Papo de Música foi selecionado pelo programa Natura Musical, por meio da lei federal de incentivo à cultura, ao lado de Elza Soares, Emicida, João Donato e Letrux. Ao longo de 15 anos, Natura Musical já ofereceu recursos para 123 projetos no âmbito federal, como Lia de Itamaracá, Mariana Aydar, Jards Macalé e Johnny Hooker.

“A música propõe debates pertinentes, que impactam positivamente na construção de um mundo melhor. Acreditamos que os projetos selecionados pelo edital Natura Musical, como o Papo de Música, podem contribuir para a construção de um futuro mais bonito, democrático e sustentável”, afirma Fernanda Paiva, gerente de Marketing Institucional da Natura.

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