CASAL CONTA SOBRE PROCESSO DE GRAVIDEZ E REGISTRO DO SEU FILHO

Recentemente, o Alguém Avisa conversou com Fernanda Mesquita, brasileira, que atualmente mora em Dublin com sua esposa Ania Kutyla. Conversamos sobre o processo de ter um filho sendo um casal de duas mulheres e sobre as questões envolvidas no processo de Fertilização In Vitro.

Segundo Fernanda muita gente não tem a real compreensão do quão complicado é o processo de FIV: “é um processo muito difícil, a Ania, minha esposa, teve que tomar muito hormônio, fazer infusão, exame de sangue semanalmente, é um processo bem invasivo. Primeira transferência foi negativa os embriãozinhos não cresceram, e isso te dá uma sensação de perda. Tentamos a segunda transferência, ambos embriões começaram a crescer, mas na 6ª semana um parou, mais uma vez você sente uma impotência e uma sensação de perda”.

Sobre o processo dentro da clínica que escolheram ela conta que tiveram alguns incômodos relacionados a lesbofobia: “a clínica que escolhemos foi ótima, porém eles tratavam da Ania, se eu ligasse para ter informações ou solicitar receita para Ania não era atendida, solicitavam falar com a Ania, pois pela lei aqui eu não era mãe do bebê, apenas a mãe biológica, no caso que estava carregando o bebê, se eu fosse marido da Ania e não mulher o tratamento teria sido diferente”, conta.

Sobre o momento do parto, Fernanda conta que alguns problemas continuam, coisas que não aconteceriam com um casal heterossexual. Segundo Fernanda, elas foram encaminhadas ao hospital para dar continuidade ao pré-natal, mas o que havia acontecido na clínica aconteceu no hospital: “todos foram ótimos, mas sempre era o bebê da Ania, nunca nosso”.

Fernanda esteve presente em todos ultra-sons até o início do COVID-19, pois neste ponto limitaram o acesso ao hospital apenas a gestante e depois só retornou ao hospital para o parto em si. Há poucos dias, ela a e esposa Ania foram registrar o pequeno William, mas ela ainda precisa entrar na corte do distrito para solicitar a inclusão do seu nome da certidão do pequeno William.

Segundo Fernanda, “Quando chegamos neste ponto foi bem difícil, você se sente rejeitada pelo sistema, mesmo com casamento igualitário, somos casadas pra fins de imposto, seguro saúde, imigração, mas não em relação ao pequenino, neste ponto tenho que pedir permissão, permissão para ficar noites acordadas segurando ele com cólica, permissão para que me chame de mamãe, permissão para levar ele no parque, permissão para autorizar um band-aid no hospital, permissão para fazer desde serzinho um homenzinho que irá fazer uma diferença neste muito tão injusto. Aí você pensa em uma mãe pedindo exame de paternidade para ganhar um suporte, para dividir a responsabilidade, e eu e aqui esperando ser autorizada”.

Uma situação que ainda é muito comum em diversos lugares. Leis que nem sempre garantem direitos completos, locais que ainda não estão preparados para receberem as novas formações familiares. São as mais variadas situações que casais LGBT’s sofrem e que são da esfera da normalidade de qualquer outra relação. No entanto, como disse a Fernanda, elas estão criando o William para fazer a diferença em um mundo injusto, o que talvez ninguém ainda tenha dito a Fernanda e a Ania é que elas próprias já estão fazendo o mundo melhor ao constituírem sua família e dividirem essa história com a gente.

Fernanda, comenta que no entanto “as pessoas foram o ponto positivo deste processo, pessoas de coração grande que nos receberam de coração abertos indiferente de XX ou XY. O negativo foi a burocracia a mais que temos que passar por simplesmente sermos nós mesmas. A sensação de ser mãe, no entanto, é indescritível, você vê algo nascer e já ama, não se importa em não dormir, se pudesse você sofreria a dor da cólica só para que ele durma tranquilamente e sem dor. E você ganha toda a paciência no mundo, parece que o bebê aperta o botão da paciência e fica segurando. Esperamos que no futuro o processo seja mais igualitário para todos os casais, indiferente de gênero, mas no momento iremos fazer nossa parte para que o William saiba e no futuro tenha orgulho de ser nosso filho”.

Siga o Alguém Avisa no seu Canal no YouTube e confira conteúdos especiais.