CARNAVAL DA MANGUEIRA TRAZ NOVO OLHAR SOBRE AS MARIAS DOS DIAS ATUAIS

Durante o carnaval do Rio de Janeiro, a escola de Samba da Mangueira apresentará uma nova roupagem para a vinda de cristo nos dias atuais. Entre as criações elaboradas para a festa estão as representações de Maria das Dores e Maria Madalena, feitas pelo artista Leandro Vieira.

Em seu Instagram, leandro comentou: “O enredo de uma escola de samba é uma proposta artística. Como tal, ele se apresenta através de mecanismos lúdicos que tendem a despertar sensações. Esses “mecanismos” são a matéria prima do trabalho que Leandro Vieira realiza. Em “A verdade vós fará livre” – a peça artistica que desenvolve para apresentar no carnaval de 2020 – o Cristo de dois mil anos atrás é posto na situação do Brasil de dois mil anos depois. O Cristo que nasceu numa família pobre da Galiléia, nasce agora numa família pobre do Morro de Mangueira.

Há dois mil anos atrás Cristo foi julgado bandido, seu corpo torturado e quem o matou, foi o Estado. Muitas vezes o Estado é sim assassino. Não faltam exemplos para justificar que ele – O Estado – nunca deixou de “pegar alguém pra Cristo.” A fantasia, “Maria das Dores Brasil” é então uma tradução da mãe do Cristo “original” mas também, uma extensão do sofrimento de milhares de outras mães nas periferias brasileiras que tiveram filhos vítimas de políticas públicas de violência e despreparo”.

“No imaginário popular, Maria Madalena ficou muito associada ao pecado. Mas sua figura histórica é a da mulher oprimida que foi defendida por Cristo. Ela seria apedrejada, e Jesus disse: ‘quem não tem pecado que atire a primeira pedra’. Cristo sempre se colocou ao lado dos oprimidos, nunca dos opressores. E é esse, o princípio do enredo da Mangueira: Cristo como difusor da fraternidade e combatente da opressão.” Quando a figura histórica de Maria Madalena ganha contornos estéticos associados a estética LGBT a conscientização sobre os crimes de ódio contra uma população que sofre na pele com a violência dos mecanismos ideológicos e repressivos passa a ser um dado artístico que leva ao debate dos direitos da minorias e de pautas que muitos pretendem tornar vazias”.

“O país que mais mata homossexuais no mundo é o mesmo país que se registra como sendo 90% cristão. Há nessa informação um dado no mínimo discrepante. É dessa discrepância que nasce a centelha criativa que me leva a criar a “Maria Madalena de Mangueira”. Para a teóloga Rose Costa, professora da PUC-Rio, trata-se “de uma abordagem bastante correta e coerente com o que está no Evangelho. Maria Madalena, por exemplo, foi marginalizada em seu tempo, considerada adúltera, e foi acolhida por Jesus, que é, sim, um ser político, que questionou a estrutura de poder de seu tempo”.

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