EROTISMO, PERFORMANCE E FOTOGRAFIA NO TRABALHO DE FELIPE PAES

Felipe Paes é artista Multimídia. Graduando em Comunicação Social, apaixonado pelo universo da arte, imagem e estética. Atua profissionalmente como fotógrafo e produtor audiovisual, permeando entre os universos da música, cinema, circo, moda e performance artística.

O Alguém Avisa conversou com ele para saber mais sobre o seu trabalho. Felipe conta que desde que conheceu a parte técnica da fotografia na faculdade, se apaixonou. Entender como a câmera capta a luz, através da física e aplicar isso ao nosso olhar pensante, o fascinou, levando-o a decidir que isso faria parte de sua vida profissional e artística. Ele já tinha se aventurado com o audiovisual na adolescência, mas foi em 2012 que decidiu levar isso como uma profissão.

Perguntamos ao Felipe como ele divide o seu trabalho entre fotografar e ser fotografado. Para ele: “meus trabalhos autorais sempre carregam um pouco de mim, mesmo um trabalho mais comercial tem uma parte da minha identidade incluída. Acho importante que nossa essência como artista reflita na produção gerada, afinal faz parte de nós, é como se fosse um filho. Gosto de brincar com intérpretes e pessoas que fotografo, que fizemos um trabalho em conjunto, é o meu olhar e a entrega da pessoa fotografada, ambos presentes e prestes a gerar uma nova forma de expressão, independente da linguagem (na fotografia, vídeo, performance), é sempre uma construção coletiva”.

Sobre o seu trabalho com o público LGBT, questionamos o fotógrafo sobre a sua relação com a fotografia de pessoas LGBT’s. Felipe conta “o amor sempre foi muito presente no meu trabalho, expressado em diferentes formas. O amor incondicional, eu digo, seja pela natureza, pelos pequenos gestos e detalhes, o amor próprio, o amor em geral. Já a figura humana, é o que instiga meu desafio de criação, através da expressão do corpo e da direção, consigo me incluir, e também fazer com que, quem faça a leitura, se sinta dentro da obra, se colocando no lugar da pessoa retratada. O movimento LGBTQIAP+ sempre fez parte da minha vida, e do meu ciclo social, eu, por fazer parte, sempre estive cercado de pessoas do meio, e foi natural que essa representatividade existisse em meus trabalhos. Como comunicador considero que a importância da presença representativa LGBTQIAP+ sirva para naturalizar perante a sociedade conservadora baseada em padrões binários cis heteronormativos, a nossa existência como pessoas reais, mostrando que podemos sim protagonizar histórias, ocupar todos os lugares, relacionarmos abertamente, atuar em qualquer profissão, e não somos apenas uma minoria ou nicho de mercado. Temos voz, somos seres humanos e devemos nos impor para fortalecer aqueles e aquelas que necessitam dessa força e coragem para viver e se expressar livremente”.

Mas a fotografia também revela muito do outro, por isso perguntamos para Paes como é a reação dos fotografados após o ensaio pronto. Ele nos revela que “a construção de uma narrativa no ensaio fotográfico sempre ajuda ambos os lados na hora da produção, tanto eu como direção, ou a pessoa retratada como intérprete. Quando decidimos o mood do trabalho, através de reuniões para definir o conceito, idéias, referências, paleta de cores, roteiro… Conseguimos ir pro set com propriedade do que vamos criar. No início é normal que role uma energia retraída, ainda mais quando não temos o costume de posar para uma câmera, mas conforme o ensaio vai fluindo, e a pessoa retratada vai acompanhando na câmera, a evolução do trabalho com o resultado da direção, da iluminação e vê ali seus sentimentos em forma de imagem. O trabalho vai se tornando uno, e vamos criando amor por esse filho gerado. Já os sentimentos de libertação, aceitação, amor pela nossa forma física e a autoconfiança, são consequências da entrega da pessoa retratada de estar em frente à câmera, permitindo-se expressar em nome da arte e da atitude de ambos em agir de forma profissional, sabendo respeitar limites e mantendo assim, saudável o clima do set“.

Felipe traz em seu trabalho muito da fluidez da pornografia com o erotismo, e o Alguém Avisa quis ouvir o que o fotógrafo tinha para dizer sobre esta questão. Ele nos revelou que gosto muito desse debate e salientou “a importância de falarmos sobre isso para evolução do entendimento da própria intimidade e o que reproduzimos no nosso comportamento sexual. Nessa discussão, digna de mesa redonda, não podemos deixar de citar a problemática “indústria pornográfica” que reproduz discursos machistas, sobre relações de poder, cultura do estupro, objetificação dos corpos e comercialização do sexo. E a importância da pós-pornografia que produz uma pornografia diversa, experimental e política indo contra a grande indústria que é baseada apenas no desejo masculino, e que reduz o sexo apenas aos genitais. Já o erotismo, que está presente há séculos na história da arte, vindo de Eros, deus do amor na tradição greco-romana, representa o desejo sexual através da paixão ou desejo intenso. E difere da pornografia, onde não existe o sentimento amoroso, simplesmente o sexo, e muitas vezes voltadas para um viés comercial. Eu vejo a arte erótica, como uma forma mais sublime de falar sobre a sexualidade, as relações íntimas e o desejo. Sendo apresentada de forma explícita ou não, “o que é erótico para uma pessoa, pode ser – e frequentemente é- pornográfico para outra.” A arte erótica traz uma maior sensibilidade e preocupação estética”.

Como cita a Psicóloga e Sexóloga Maria Claudia Lordello:

“O erotismo é essencial à todo ser humano. É uma forma de estimular o impulso sexual. O impulso sexual pode sofrer influência externa, através da educação, da ética e da moral, porém não pode ser completamente controlado pela vontade consciente. Quando demasiadamente reprimido, o impulso sexual ressurge através das disfunções sexuais e desvios de conduta. O erotismo pressupõe um conceito de arte e uma existência da própria arte erótica como objeto estético, feito para ser visto e admirado. O erotismo diz respeito ao belo, à estética sexual, a arte de transformar corpos em obras de arte.” (Disponível em: https://psico.online/blog/erotismo-segundo-a-psicanalise/, acesso em 12 de agosto de 2019)

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Antes de encerrar a entrevista Felipe ainda mandou um recado muito maravilhoso para gente:

“Agradeço ao Alguém Avisa por dar voz a arte e cultura presente no nosso movimento e pela importância da representatividade contida nesse canal. É uma grande honra poder apresentar meu trabalho, contar um pouco de minha trajetória e abordar essas questões que precisam ser discutidas cada vez mais no nosso dia a dia, mais uma vez, obrigado e vida longa ao Alguém Avisa!”

A gente agradece muito e deseja também vida longa a projetos incríveis como o do Felipe.

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