GABRIELLA É A PRIMEIRA MULHER TRANS HOMENAGEADA COMO PRENDA EM CTG

Recentemente, o Diário de Santa Maria publicou uma matéria falando sobre a homenagem que foi noticiada no Brasil inteiro. No ano em que o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) celebra os 50 anos da Ciranda de Prendas, Gabriella Meindrad Santos de Souza, 32 anos, chega para marcar a história do tradicionalismo do Estado. Ela é a primeira mulher transexual a ser homenageada como prenda. O evento ocorreu no CTG Cancela da Tradição, pertencente À 10ª Região Tradicionalista (10ª RT), no município de Mata.

A vivência tradicionalista de Gabriella foi no CTG Cancela da Fronteira, de São Vicente do Sul, sua cidade natal. Atualmente ela cursa Direito na Fadisma, em Santa Maria. Ela foi reconhecida como prenda, à época da sua atuação como 2º Peão da 10ªRT gestão 2003/2004.

– Inesperado e incrível este reconhecimento do MTG em que prevaleceu o respeito, a humanidade, a empatia e o amor. Entrei em contato há cerca de um ano perguntando sobre o posicionamento do movimento em relação a minha participação, e, felizmente, o departamento jurídico me respondeu com todo acolhimento e carinho, mesmo jamais imaginando. Podemos dizer, sim, que o movimento é tradicional, que pode haver preconceito de algumas pessoas, mas os valores dos realmente tradicionalistas, serão sempre de acolhimento, respeito e amizade.Esperei 25 anos por este momento. Ainda lembro a primeira vez que fui no CTG, e todo o encantamento que tive. Lembro do primeiro concurso, da primeira poesia, da primeira dança, dos sonhos que realizei. Sábado foi único e inesquecível. Revivi o Maurício vivendo a Gabriella que sempre fui – orgulha-se a prenda.

Conforme o Danilo Alves, diretor cultural da 10ª RT, receberam uma menção honrosa ex-prendas, ex- peões e dirigentes da 10ª RT, totalizando 57 distinções.

– “O mais bonito é que na hora não teve conversas laterais pejorativas. Era apenas o peão que virou prenda, tudo com muita naturalidade”, celebra Alves.

Amigo de Gabriella (na foto) e ex-peão também homenageado no evento, o advogado Alberto Barreto Goerch, que preside a Comissão Especial da Diversidade Sexual e Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) subseção Santa Maria escreveu em suas redes sociais a história de amizade e o que a homenagem representa:

– Os anos foram passando, a nossa amizade fortalecendo e percebi então que eu tinha na realidade uma grande amiga, a qual faz parte da minha família e nada que eu escreva vai expressar o que já vivemos juntos. Acompanhei seu processo de transformação física (porque ela sempre foi a mesma pessoa) auxiliando no que pude e vê-la se tornar externamente o que já era como ser. Nunca as palavras de Simone de Beauvoir fizeram tanto sentido para mim: “Ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher”, exatamente no sentido de ser uma luta constante de autoafirmação em uma sociedade estruturalmente machista. O MTG (…) teve a humanidade, palavra estampada na bandeira do Rio Grande do Sul como um ideal a ser seguido: o de homenagear Gabriella pela sua brilhante atuação como prenda.

O presidente do MTG, Nairo Callegaro afirmou que esse gesto representa um ato de respeito:

– É uma questão social, que hoje ou amanhã aconteceria. Não podemos ignorar o direito de cada um em exercer sua liberdade. E que isso não vire uma bandeira de confronto. Esperamos que as pessoas do Estado também entendam, pois tudo foi tratado com respeito.

A prenda ainda fez um apelo:

– Que todas as Gabriellas se sintam representadas, porque não é gênero que define nossas raízes e nossos valores, mas, o sentimento e a vontade de fazer. No movimento eu vivi tudo isso, tanto ao dançar, ao declamar, ao fazer nos concursos de peões atividades ditas como do gaúcho: tranças em tentos, encilhando, enfim, tudo é um orgulho por fazer parte da minha identidade e, por agora, poder dizer que podemos ser do tamanho dos nossos sonhos, que nossa identidade gaúcha está além da identidade física, que sou e sempre serei aquela tradicionalista que ama nosso estado! Que este momento não seja tratado como afronta ao movimento, mas um momento de transformações, desconstruções, para de um movimento mais fraterno, humano e igualitário.

Fonte: Diário de Santa Maria

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