GABRIEL GALLI FALA SOBRE SER LGBT EM UM PAÍS LGBTFÓBICO

O Jornalista, mestre em Comunicação, Coordenador Geral do grupo SOMOS e co-fundador da Freeda – Espaços de Diversidade Gabriel Galli escreve um texto muito importante para o atual momento do Brasil, confira:

Talvez você que não vive no Brasil não saiba, mas corremos um risco muito grande de eleger um presidente que elogia a tortura da ditadura militar, despreza os direitos das mulheres, é racista e acha que LGBTs não devem existir. Quase metade do povo foi às urnas no último domingo e optou por ele. Ainda temos um segundo turno, mas a sensação de desespero está tomando conta de todos os meus amigos que não estão dentro de uma norma de gênero dominante.

 Na última semana, uma menina foi imobilizada no meio de uma rua de um dos bairros mais movimentado de uma das cidades mais importantes do Brasil por ter um adesivo na mochila que dizia “Ele Não”, uma campanha de vários setores da sociedade contra esse candidato. Três homens a seguraram e riscaram uma suástica nas costelas. Ela provavelmente vá ficar com uma cicatriz com essa marca para o resto da vida.

A situação já não estava fácil quando as pessoas perceberam que ele subia nas pesquisas de intenções de voto e a chance de eleição era real. Quando o resultado das urnas começou a ser mostrado no domingo e, em dado momento, chegou a 49% dos votos, meu coração começou a bater forte e fiquei tonto. Depois, soube que vários amigos sentiram a mesma coisa. A sensação de impotência foi se misturando com o medo de ser morto a qualquer momento. Nos dias que têm se passado, começaram a circular notícias nas redes sociais e na imprensa de que pessoas LGBTs estão sendo hostilizadas publicamente simplesmente por andarem nas ruas. O Brasil é um dos países que mais mata LGBTs no mundo, mas fazia muito tempo que as pessoas que você vê no cotidiano não se sentiam autorizadas a te dar um tapa na cara no meio da rua e dizer que vão “matar viados” nos centros urbanos do país. Todas as denúncias são ignoradas: a maior parte da polícia apoia este comportamento.

Uma horda de homens entrou no metrô lotado de São Paulo, maior cidade do país, cantando “Bolsonaro vai matar viado”. Três amigos muito próximos relataram que homens gritaram xingamentos homofóbicos de carros em movimento quando iam ao supermercado, à academia e à faculdade. Não conheço nenhum amigo gay que tem conseguido dormir tranquilamente nos últimos dias e não esteja com medo do futuro. Parei de sair sozinho à noite por não saber se voltarei vivo para casa. Há poucos meses mataram uma vereadora defensora de Direitos Humanos no Rio de Janeiro a tiros e ninguém sabe ou quer dizer quem foi. O candidato disse que não ia se manifestar, já que a opinião dele seria polêmica demais. Se mataram uma vereadora numa das cidades mais importantes do país e tem gente que relativiza, o que não podem fazer com a gente?

Estamos frágeis, sem saber ao certo o que fazer, além de resistir. Nem todos conseguem e recorrem a medicamentos ou ao isolamento. Saber que um dos parentes mais próximos que tenho votou a favor de Bolsonaro me destruiu e não sei se tenho condições de reatar uma relação normal com ele. Cada vez que se tenta conversar de alguma forma e mostrar dados do que acontece, somos acusados de compartilhar notícias falsas, por pessoas que não tem como hábito consumir qualquer tipo de informação.

Nos últimos anos, tenho me dedicado a dar aulas para jovens comunicadores e jornalistas, trabalhadores e empresários sobre a necessidade de garantir os direitos da população LGBT. Sempre comento sobre como é difícil ser LGBT em países em que a pena de morte é o que as pessoas que são diferentes recebem como tratamento do Estado. Hoje, não posso mais afirmar que não seremos assim brevemente.

Versão do Texto em Espanhol, AQUI.
Versão do Texto em Inglês, AQUI.

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