EM ÁLBUM INTITULADO “SENZALA” A TRANS MC XUXU FALA SOBRE PRECONCEITO E RACISMO

Quem é trans sabe o quanto as coisas são difíceis. Especialmente gravar um disco colocando nele tudo que você pensa, tudo que você sente, toda sua luta. Mc Xuxu sempre soube que nunca iria ser fácil, mas recentemente conseguiu um disco todo dedicado a pessoas trans, da periferia. As músicas do CD apresentam letras com consciência e empoderamento da causa negra e LGBT. Para a artista, este álbum é a chance de poder passar a sua mensagem e expressar sua qualidade artística, além de mostrar que a nossa limitação é o preconceito, racismo e o machismo.

Confira o álbum no YouTube ou Spotify:

Spotify: http://bit.ly/mcxuxu
YouTube: http://bit.ly/YTmcxuxu

Em 1988, nasceu no corpo de menino aquela que foi chamada Leonardo. Negra e moradora da periferia de Juiz de Fora, cresceu no bairro Santa Cândida, brincou na rua, soltou pipa e estudou na escola estadual de lá. Em 2007, conheceu Adenilde Petrina – uma professora para Leonardo; uma líder comunitária para o bairro e uma griotte1 para a coletividade. Através de projetos culturais, Adenilde a apresentou o RAP e a organização política. Aos 17 anos, Leonardo não suportava mais o corpo de menino. Ela era Karol Vieira e, assim, foi expulsa de casa pelo padrasto que não a aceitava como mulher. Acostumada a viver com pouco, dessa vez, Karol não tinha nada. Na rua, a prostituição foi a única chance de sobrevivência. Destino parecido com de muitas outras jovens transexuais: de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% das travestis e transexuais estão em situação de prostituição no Brasil.

Com outras meninas transexuais, ela aprendeu os nomes dos hormônios femininos e sem nenhuma orientação médica passou a utilizá-los; descobriu a briga por pontos de prostituição; viu colegas morrerem ao aplicar silicone industrial; presenciou a morte violenta algumas vezes e foi mais uma vítima de uma tentativa de assassinato em 2013. Karol sobrevive no país do mundo onde mais se mata travestis e transexuais, de acordo com a ONG Transgender Europe: o Brasil.

Entretanto, entre a dor da rua, sempre esteve presente a felicidade. Pela primeira vez, ela esteve ao lado de tantas outras pessoas parecidas e que são empurradas para as margens. Nunca abandonou a rima e se encontrou em um movimento cultural que voltava a ocupar a grande mídia na década 1990 e 2000: o Funk. Ela tornou-se Mc Xuxú. Sua primeira música foi um presente do rapper Aice NP, morto em 2014, vítima da violência crescente na periferia de JuizdeFora2. Depois,vieramascomposiçõesprópriaseaMCpassouafazerpartedeumageraçãodemulheres do funk que escrevem sobre emancipação, sexualidade, felicidade e sua vida cotidiana. Mulheres que não conheciam conceitos acadêmicos de feminismo ou negritude, mas se colocam agentes transformadoras pelo fato de existir, compor e cantar.

A MC tem 28 anos, a expectativa de vida de uma travesti ou transexual brasileira gira em torno dos 30 anos segundo o grupo Transrevolução, entretanto, ela pretende continuar contrariando estatísticas. Xuxú vive no mesmo bairro da infância; conta com um público fiel; possui sete fã clubes nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Ceará e Amazonas; tem repercussão nacional nos principais veículos midiáticos e fez show para um público estimado de 100 mil pessoas na Parada do Orgulho LGBTT de São Paulo de 2015. O

videoclipe de sua música Um Beijo conta com mais de 2 milhões de acessos e a produção feita para a música Bonde das Travestis também já ultrapassou 1 milhão de acessos no Youtube. Em 2015, lançou uma série de vídeos chamada “Tô no comando”, na qual abordou temas como a morte precoce de jovens negros, comportamento e padrões de beleza.

Mesmo com todo o sucesso nas redes socias e fora delas, a MC ainda enfrenta a dificuldade de se manter financeiramente comum a tantas outras jovens periféricas e mulheres trans. Todas as suas produções são realizadas a partir de um coletivo de juiz-foranos que abrem mão de seus cachês por afinidades políticas e afetivas. Eles se dividem em muitas funções, são dançarinos, figurinistas, maquiadores, fotógrafos, editores de vídeos, entre outros. Artistas que também lutam para afirmar-se a partir de seus trabalhos.

Sobretudo, MC Xuxú persiste no caminho apontado pela griotte ainda na infância, reunindo pessoas a partir da cultura e transformando a realidade e comunidade da qual faz parte. O projeto busca o incentivo para a gravação do primeiro CD da compositora, realizado junto ao coletivo aglutinado por ela. Seguramente, mais um importante passo na consolidação da carreira da MC e na afirmação da população periférica de Juiz de Fora. 

Confira a música SENZALA:

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