JOVEM GAÚCHO QUE MORA NO RIO DE JANEIRO FALA SOBRE SOROPOSITIVIDADE E PRECONCEITO

Niamei Nabarro, é um jovem gaúcho que acaba de completar 30 anos de idade. Há quase 11 anos convivendo com o HIV, o relações públicas que hoje mora na Lapa, no Rio de Janeiro, dividiu em sua rede social um texto bastante pessoal, mas extremamente necessário, onde conta um pouco da sua trajetória nestes anos todos. O texto que já teve inúmeros compartilhamentos procura trazer uma reflexão sobre como é a rotina de uma pessoa que convive com sorologia positiva, dando destaque para a importância da informação, do conhecimento e principalmente da tranquilidade para viver uma vida não ditada pela doença. 

Confira o texto postado em sua rede social:

“2018. MUDANÇA. SOROPOSITIVIDADE.

Sim, eu vivo com HIV. Sim, eu sou soropositivo. Por que eu tô falando isso agora? Quer saber mesmo? Então presta atenção.

Hoje, 16 de janeiro de 2018, dia em que eu completo 30 anos de idade, completam-se também exatos 10 anos e 11 meses que eu sei sobre minha sorologia positiva. Naquele dia, eu tinha 19 anos recém completados e achei que minha vida estava próxima do fim. Eu sabia muito pouco sobre HIV. Há pouco, eu havia visto o filme do Cazuza. Pra mim, era certo: o fim estava próximo.

E eu achei que era o fim por que eu era desinformado. Eu achei que era o fim por que, por mais aberta que tenha sido a minha educação, o tema era um tabu. Eu achei que era o fim por que eu cresci ouvindo piadinhas sobre a bixa aidética. Eu achei que era o fim porque, na TV, nos filmes, nas novelas, HIV era sinônimo de sofrimento, de dor, de perda.

Contudo, graças à Deus e aos Orixás, eu tenho uma família maravilhosa. Uma família que não saiu do meu lado em momento algum durante esse período tão complicado. Uma família que, literalmente, segurou a minha mão e me guiou por um caminho melhor, um caminho de superação.

E mesmo durante esse caminho de descoberta, de conhecimento, por diversas vezes, eu voltei a achar que era o fim pois encontrei pessoas igualmente preconceituosas, igualmente desinformadas pelo caminho. Eles passaram. Eu segui. Eu sigo.

Em 2007, eu fui aprovado no vestibular de uma das melhores universidades do país. Em 2009, eu iniciei um estágio em uma multinacional. Em 2011, eu fui contratado por essa multicional. Em 2012, eu fui estudar no exterior. Em 2014, em me mudei pro Rio de Janeiro. Hoje, 2018, eu trabalho em uma agência tendo como cliente a empresa com 2° maior faturamento do Brasil.

Não foi o fim. Foi o começo. Minhas maiores conquistas, foram obtidas após eu saber da minha sorologia. Eu tenho absoluta certeza de que elas vieram, não só, mas também, por conta disso. Superação. Com a ajuda da minha família, eu decidi que não seria o fim. Eu aprendi e decidi que ser soropositivo passaria a ser parte de quem eu sou, mas não definiria quem eu sou ou até onde eu posso ir. Assim como a minha cor da pele. Assim como a minha orientação sexual.

Por conta de toda essa história, por conta de tudo isso, hoje, fazer 30 anos, pra mim, é motivo de celebração. Não por que eu “cheguei” até aqui. A vida de um soropositivo que, assim como eu, toma todos os cuidados para manter sua carga viral indetectável, pode ser tão (ou mais) longínqua que a de uma pessoa não portadora do vírus. Não é isso.

O que me faz estar feliz nesse momento é ver tudo que eu consegui obter mesmo depois de ter achado que não conseguiria mais nada. O que me motiva a escrever isso tudo aqui é a tentiva de, de alguma forma, tentar desconstruir a ideia de que a vida de uma pessoa soropositiva é uma vida limitada. Eu conto isso tudo aqui para que os meus amigos e conhecidos que ainda fazem piadinhas sobre o tema parem de fazer. Eu divido isso tudo aqui porque eu mesmo preciso mudar a maneira de lidar com o tema. Eu divido isso tudo aqui porque alguém pode estar precisando ler isso nesse momento. Eu conto isso tudo aqui por que não dá mais pras pessoas ficarem reproduzindo estereótipos e discursos retrógrados por pura preguiça de buscar informação, de fazer mais. Eu divido isso tudo aqui porque, de uma vez por todas, as pessoas precisam se informar mais: seja para lidar melhor com a sua própria vida, seja para não ser escrota com a vida do outro. Eu falo isso tudo aqui por que eu queria muito que um “exemplo bom” tivesse vindo a minha mente quando eu descobri que era soropositivo. Eu falo isso aqui por que eu quero que meus amigos, soropositivos ou não, sejam responsáveis e LIVRES para as suas escolhas. Eu conto isso tudo aqui porque a gente vive um momento em que a gente precisa se posicionar absolutamente contra todo e qualquer tipo de preconceito.

Mais amor, menos julgamento. Mais informação, menos preconceito. Com isso, esse ano que tá recém começando tem tudo pra ser muito muito foda. Bora fazendo”!

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