APÓS TEMPORADA NO INFERNO, SATÂNIA CÁUSTICA ROMPE COM LÚCIFER

Workroom além de ser um espaço amigável para o público LGBTQIA, também se tornou um dos espaços onde as artistas drags podem apresentar o seu trabalho. A Workroom (que prefere ser tratada no feminino mesmo) tem decoração inspirada nos cenários do reality show estadunidense RuPaul’s Drag Race) Assim como o programa que tem inspirado centenas de jovens a colocar para fora seu alter ego drag, provocando uma verdadeira eclosão de artistas essenciais da cena cultural LGBT da cidade, a Workroom procura incentivar cada vez mais que as drags tenham um espaço para apresentar a sua arte. Em parceria com a Workroom, o Alguém Avisa irá todas as semanas mostrar um pouco mais do trabalho realizado pelas Queens que se apresentam a cada sábado na Saturday Night Divas. Hoje você conhece um pouco do trabalho de Satânia Cáustica que se apresenta neste sábado (30), a partir das 21h.

Satânia Cáustica surgiu do fogo do inferno que queimava nos rabos de todas as pessoas na época da NEO, da necessidade de se expressar visualmente, e performaticamente, num mundo cada vez mais padronizado e regido por cânones de aparência. A Satânia é um processo em constante evolução, tendo se estabelecido nessa visualidade dela bem recentemente, tendo passado por várias fases, mas sempre mantendo um pouco de goticismo e experimentação. Suas princiais influências são Nina Hagen, Adam Ant, Vivienne Westwood, Steven Strange, Boy George, toda essa fauna punk e new romantic dos anos 80, e também, é claro, os club kids de NY dos anos 90, James St. James, Leigh Bowery e Richie Rich.

Para Satânia, Drag sempre foi um veículo de expressão artística, e com o passar do tempo se tornou uma extensão do resto do seu trabalho com arte, moda, teatro e vídeo. “Então a minha maior motivação é a possibilidade infinita de criação e transversalidade que ser drag me possibilita dentro da arte”, diz a artista. Dentre as dificuldades, a drag menciona duas questões. Primeiro, que não é fácil vencer as barreiras do preconceito que a sociedade ainda tem com artistas transformistas e drag queens. E segundo, encontrar sapatos do seu tamanho que não custem o mesmo que uma prestação de um apartamento no Moinhos de Vento.

Sobre o apoio que recebe, Satânia conta “os meus amigos são a razão pra eu continuar viva, é por causa do apoio deles que eu me mantenho inspirado pra explorar e criar cada vez mais. A minha família nem sempre foi compreensiva, hoje eles são quase de boas com isso, embora ainda precisem de mais um pouco de desconstrução pra entender mesmo o que que tá rolando”. Sobre a cena drag, a artista comenta que ainda é preciso mudar algumas coisas, como por exemplo: “os padrões que nós impomos na expressão artística da coleguinha, quer seja a maneira como se maquia ou o tipo de roupa, ou se usa peruca ou não. E também é preciso mudar, com urgência, a falta de atenção que se dá aos performers drag king, que são uma parte vital da arte drag que as pessoas preferem jogar ainda mais pras margens de um grupo já marginalizado”.

Antes da nossa ‘rapidinha’, pedimos para ela completar a frase “Alguém Avisa que…”, ao que ela finalizou dizendo: “Alguém avisa que a beleza é passageira, mas o pacto com o demônio é pra sempre”.

RAPIDINHA:

UMA PESSOA: Lúcifer
UM LUGAR: O Inferno
UM OBJETO: Plug Anal
UMA PALAVRA BONITA: Sacrifício
UMA PALAVRA FEIA: MBL
UM VICIO: Sangue de Virgens
UM SONHO: A destruição da sociedade
PREGUIÇA: de machos discretos fora do meio
PRAZER: desaquendar a neca no final do show
RAIVA: esmalte preto de má qualidade
FELICIDADE: boys de jockstrap
TRISTEZA: ficar sem batom preto
MEDO: do conservadorismo que assola a sociedade
DRAG: é política e arte, e muito caro

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