COMO É O RELACIONAMENTO ENTRE SORODISCORDANTES? IGUAL AO DE TODO MUNDO!

Recentemente, o jovem gaúcho Jeandro Borba  e seu namorado Geovanni Henrique passaram por uma situação bastante recorrente de preconceito, o bullying virtual. Através do aplicativo Sarahah Jeandro recebeu uma mensagem dizendo: “Teu namorado tem AIDS”. O que o agressor talvez não soubesse é que a resposta do jovem acabaria ganhando as redes e se transformando numa ferramenta de combate ao preconceito com pessoas que convivem com o HIV. Muita gente tem perguntado como o casal se conheceu, como é a relação entre eles, entre outros detalhes. Parte dessa história eles dividem em sua página e canal de vídeo onde dividem com o público materiais importantes sobre como tratar do HIV e da AIDS de forma leve e descontraída, com informação e qualidade. A história real a gente conta aqui.

Geovanni conta como conheceu o Jeandro

Nos conhecemos em uma festa. Me interessei quando o vi. Ficamos a noite toda juntos. Nos vimos no dia seguinte e daí em diante não paramos de trocar mensagens. No primeiro momento me questionei se ele já sabia da minha sorologia, porque eu já havia ido em público falar sobre isto. E acabei perguntando nos dias seguintes. Ele disse que já sabia e que isso não seria problema, porque trabalhava na área da saúde e já era um pouco esclarecido. Há 5 meses atrás eu não imaginaria que estaria namorando, ainda mais depois de ter me exposto e pelo fato das pessoas terem preconceito. Mas ele foi na contramão disso. Daí adiante fomos nos vendo. Apesar de ser com pouca frequência por causa da distância e dos nossos horários de descansos que não se batem, eu e ele sempre fazemos o possível pra nos vermos. No começo ele se limitava a muitas coisas e por isso não cogitei a possibilidade de um namoro. Sempre fomos bem verdadeiros um com outro. Falávamos o que esperávamos deste relacionamento. Com o tempo fomos criando muita afinidade. Até que chegamos ao namoro. Eu amei muito quando ele fez a publicação respondendo a pessoa anonima no Sarahah e a repercussão de tudo isso. Ele ajudou um pouquinho a quebrar certos preconceitos. Creio que tive a sorte de conhecer alguém que não vê problemas na minha sorologia +. Muitos não tem. Eu espero que a nossa caminhada juntos dure um tempão, enquanto houver felicidade mútua. A gente não sabe do futuro né, mas estou muito feliz em ter ele do meu lado. E estou vivendo em intensidade máxima este sentimento que ele está me proporcionando. Não que seja bom viver com este vírus, mas talvez ele tenha vindo pra me mostrar o quanto a vida é valiosa para não ser vivida.

Jeandro conta como conheceu o Geovanni

Eu “conheci” o Geovanni quando ele fez a publicação, em janeiro, desabafando e falando sobre ser soropositivo. Lembro que vi uma reportagem na internet e pensei “nossa que lindo, eu namoraria ele certo”. Nessa época fazia mais de 3 anos que eu tinha terminado minha última relação e não pensava em namorar novamente. Acessei o facebook dele e não consegui nenhuma maneira de “ser visto por ele” já que não tinha como adicioná-lo, nem cutucá-lo ou mandar mensagem. Logo eu desisti. Alguns meses depois, eu fui a Caxias do Sul visitar uns amigos que há muito tempo me cobravam para ir visitá-los (Eu moro em Osório – São 211km de distância). Combinei com eles e avisei que iria no dia 31 de março. O dia chegou e eu fui para Caxias visitar meus amigos. Já tinhamos decidido que iríamos na Level no sábado à noite, mas uma amiga conseguiu pulseiras pra irmos na Nox. Lá em Caxias, eu acessei o Hornet pra ver quem estava por perto e apareceu o perfil do Geovanni, puxei conversa trocamos algumas palavras mas não vi nenhum interesse da parte dele, então parei de falar. No sábado fui com meus amigos para a festa e no meio da noite, estava dançando quando olho para o lado e vejo ele, cutuquei um amigo e disse “olha aquele guri do app”. Quando olhei para ele parecia que ele estava me olhando, a gente trocou olhares, mas como ele olhava para outras pessoas e tinha um guri com ele constatei que tivesse marcado com aquele guri na balada. Me aproximei mais deles pra ver se os olhares continuariam, dai vi que o guri falou algo no ouvido dele, me olhou e foi em direção ao bar, nesse momento o Geovanni me olhou, sorriu e veio em minha diração, eu sem hesitar nem falar nada já o beijei. Enquanto nos beijávamos, durou muito tempo esse beijo, eu pensei: e agora o que eu faço? Saio andando como fiz com todos os outros ou continuo? Então decidi continuar pra ver no que ia dar. Naquela noite permanecemos juntos, ele pediu meu telefone e disse que gostaria de me ver no outro dia, deixamos combinado de nos vermos. No outro dia, trocamos mensagens e eu estava com uns amigos almoçando e convidei ele pra ir, ao que ele disse “vou colocar uma roupa e vou”. Eu achei aquilo sensacional, porque hoje em dias as pessoas não valorizam mais as outras e tampouco “correm atrás”. Ele nos encontrou, comemos e fomos para um parque e ele ficou lá conversando conosco até o horário de entrar para o trabalho. Voltei para casa naquele mesmo dia, e quando chegou a noite ele perguntou “você viu no meu perfil que eu sou positivo para o HIV?”. Eu disse que sim e que isso não era problema pra mim, só pedi que ele tivesse paciência e que me ajudasse a entender melhor sobre esse mundo novo, que me desculpasse caso eu fizesse ou falasse coisas sem noção, mas que tudo era novo pra mim. Desde então não paramos mais de conversar e a vontade de revê-lo e estar com ele foi ficando cada vez mais forte. Nos encontramos várias vezes, alguns meses foram passando e comecei meu primeiro dilema: o que é essa relação que estou vivendo. Eu não queria dar nome à relação, mas ao mesmo tempo não estava procurando outras pessoas. Tinha medo de “dar nome as coisas” e no outro dia descobrir que não era nada daquilo que eu queria. Por muito tempo ele, irônicamente, dizia que tinhamos um namoro entre aspas e que eu não queria assumir ele; mas a verdade é que eu não tinha segurança dos meus sentimentos e o medo de me envolver com alguém permanecia em mim. O Geovanni foi me ganhando com o tempo, a forma simples como ele via as coisas, a dedicação dele em percorrer quilômetros pra passar um final de semana comigo, a disponibilidade dele, isso foi me cativando e me abrindo. Decidimos passar um final de semana no Rio de Janeiro em julho e eu tinha decidido que lá oficializaríamos, mas não havia falado pra ele. Então em um pôr do sol, na praia de Ipanema, estávamos abraçados e eu queria pedi-lo em namoro mas não sabia como, não conseguia. Então pedi o celular dele, entrei no facebook e mudei o status dele para “em um relacionamento sério” e mostrei pra ele que sorriu e me beijou, depois mudei o meu também. Desde então “oficializamos”. O fato dele ser portador do HIV fez com que nossa relação iniciasse com muita sinceridade, verdade e diálogo, a gente conversa muito e sobre tudo, nós não temos medos nem receios um com o outro; fez com que fossemos transparente um com o outro. Não temos medo de dizer o que queremos ou não, o que estamos sentindo ou não. Eu sei de tudo o que ele já sofreu por ser portador do vírus e todo preconceito que existe, mas acredito que se não fosse o HIV, nossos caminhos não teriam se cruzado e talvez não estivéssemos vivendo hoje tudo que estamos vivendo. Pra mim, o vírus é apenas mais uma característica dele, assim como a cor dos olhos, temos que aprender a conviver com ele da melhor maneira possível, às vezes nem lembro que ele é soropositivo porque pra mim isso não é algo que influencia o que sentimos um pelo outro. Tenho muito orgulho da batalha dele, tanto que agora entrei junto, para tentar amenizar esse preconceito, que eu mesmo já senti na pele por me relacionar com um soropositivo. Até onde vai nossa relação eu não sei; o que sei é que quero vivê-la dia a dia, não como se cada dia fosse o último, mas como se cada dia fosse o primeiro.

Além de compartilharem essa história de amor, eles agora também dividem com um público o primeiro vídeo do canal:

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