O QUE É SER UMA PESSOA AROMÂNTICA? JOVEM COMPARTILHA SUA EXPERIÊNCIA COM O ALGUÉM AVISA

Segundo uma definição, provavelmente genérica e que não consiga levar em consideração a pluralidade de sensações individuais, um aromântico é uma pessoa que experimenta pouca ou nenhuma atração romântica por outras pessoas. Quando pessoas românticas tem uma necessidade emocional de estarem em um relacionamento romântico, aromânticos normalmente estão satisfeitos com amizades ou outros relacionamentos não-românticos. O que diferencia um relacionamento romântico de um não-romântico pode variar, mas geralmente inclui uma conexão física (dar as mãos, ficar abraçadinho, etc.). O traço aromântico é geralmente considerado algo inato e não uma escolha pessoal, assim como a falta de atração sexual é inata a asexuais. É importante lembrar que aromânticos não são desprovidos de conexões emocionais/pessoais, apenas não tem uma necessidade de desenvolver conexões de natureza romãntica. Eles podem precisar de tanto apoio empático quanto românticos, mas essas necessidades podem ser supridas de uma maneira platônica. É possível que um aromântico se envolva e goste de um relacionamento com outra pessoa, mas essas relações geralmente são amizades próximas, naturalmente refletindo a proximidade dos dois. Indivíduos e não uma separação monogâmica como é normalmente encontrada em casais românticos. Aromânticos podem experienciar “squishes” que são o platônico equivalente de uma “crush” romântica. Um relacionamento de um aromântico com alguém que é mais que uma amizade – mas menos que um romance** – pode ser chamado de “queerplatonic relationship”. Como todas as identidades românticas, aromânticos podem ser de qualquer orientação sexual.”

Recentemente, tivemos a oportunidade de conversar com a Carla Stahl, ‘assumidamente’ AROMÂNTICA. Em uma conversa informal, ela nos explicou que pouco se fala sobre o assunto, e que seria importante dividir algumas experiências. Procuramos fazer o tema de casa, e antes de realizarmos as primeiras perguntas, chegamos a definição explicitada logo acima. Além de entender um pouco do ‘aromântico’ a ideia é também desmistificar algumas perguntas que normalmente surgem da parte dos ‘românticos’ e que incomodam tanto quanto aquelas perguntas desnecessárias feitas para LGBT’s.

A primeira dúvida foi diretamente ligada a questão do sofrimento. Muitos dos momentos de insatisfação em nossas vidas são diretamente ligados a sofrimentos amorosos, mas como isso se aplica no dia a dia de um aromântico? Carla responde: “Sofrer é muito amplo, né? Se estivermos falando sofrer por amor romântico, certamente. Não tenho como sofrer por isso. Mas aromânticos sentem todos os outros sentimentos e todas as outras formas de amor da mesma maneira que as outras pessoas, e sofrimento está certamente incluso. Algumas coisas que me fazem sofrer: cachorros abandonados; cavalinhos puxando carroça; amigos que somem da face da Terra quando tem um parceiro romântico e de repente lembram que eu existo quando esse relacionamento acaba; amigas que não me convidam mais pra ir na casa delas porque casaram e aparentemente pessoas solteiras e casadas não se misturam socialmente; campanha Jair Bolsonaro 2018; e por aí vai”. Ou seja, aromânticos não sofrem com situações ligadas diretamente ao ‘amor romântico’.

Antes de todo mundo começar a falar coisas como: “Deve ter passado por algo”, “Não encontrou a pessoa certa”, “É modinha” ou qualquer comentário equivocado como estes, tentamos entender desde quando a Carla se sentia aromântica. Assim como na maioria dos casos, onde as pessoas não perguntam, ela se sente assim desde que nasceu. Só descobriu o termo aromanticismo esse ano, mas sim, desde que se entendia por gente se lembra de entrar em parafuso cada vez que alguém demonstrava interesse romântico por ela, apesar de não saber porque se sentia assim. “Já era adulta quando percebi que precisava parar de me colocar em situações desconfortáveis pra tentar agradar os outros. O momento de realização é libertador, mas é também difícil aceitar que a gente é diferente dos outros. Não é leviano. Eu tentei. É uma questão entre viver feliz ou miserável, então preciso respeitar minhas configurações de fábrica”, comenta.


Durante a conversa Carla fala sobre como se sente mais conectada consigo mesma desde que entendeu melhor como se sente. E ao descrever este novo momento ela diz que a melhor coisa de ser aromântica é “a leveza que não ter expectativas românticas traz. Reconhecer a felicidade que eu sinto em ser uma unidade é uma liberdade plena, serena”. Imagino que alguns enquanto leem ainda devem estar fazendo inúmeras inferências. Mas antes de perguntar ao outro se ele é realmente feliz assim, você já se perguntou se é feliz plenamente no seu modo de experimentar o amor? A felicidade está menos no objeto de escolha e muito mais na expectativa de cada um.

É importante dizer isto, pois nossa entrevistada, é durante vários momentos questionada. Apesar de muitas dúvidas surgirem da própria curiosidade, pode ser bastante desconfortável. Ninguém pergunta a alguém “Por que você é romântico?”. Carla conta “ser vegetariana me ensinou que ficar na minha é a melhor saída pra evitar pessoas me colocando contra a parede. Prefiro não ter que me defender em praça publica. Sendo assim, ser aromântica não é um tópico que costumo abordar levianamente. Se alguém me pergunta “e o namorado?” eu só respondo que continuo solteira e sou feliz assim. Sempre rola um “calma, uma hora tu encontra a pessoa certa”. Na minha cabeça eu penso “Não estou procurando, obrigada.” mas respondo um educado Quem sabe, né?”. No entanto, Carla está aqui corajosamente ‘saindo do armário’ dos aromânticos, buscando se entender, dividindo sua história para que outras pessoas não precisem dar tantas explicações sobre serem aromânticas.

Antes de encerramos nossa conversa, ela manda um recado direto aos aromânticos: “se você se identificou com as coisas que leu por aqui, mas talvez não tudo, vale lembrar que o aromanticismo é um espectro. Alguns preferem estar sozinhos, como eu, outros ainda buscam companheiros e relacionamentos estáveis. Ser aromântico não significa obrigatoriamente estar sozinho. Procurar mais informações a respeito e ter um grupo pra conversar me ajudou muito a entender melhor e aceitar de peito aberto, com orgulho, quem eu sou.” E para a turma que ama apontar dedos, ela deixa uma dica: “Ser aromântico não necessariamente implica que a pessoa odeia romance de modo geral. Pra mim, o romântico em tudo que não me diz respeito é super bem vindo. Não sou cética ou desgostosa com o romance alheio. Tenho vários exemplos de relacionamentos lindos e saudáveis ao meu redor e me faz bem estar com eles”.

DICAS:

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