NO DIA INTERNACIONAL DA FOTOGRAFIA O ARTISTA DAVID CECCON FALA SOBRE ANDROGINIA, IDENTIDADE E GÊNERO

Neste sábado (19) é celebrado o Dia Internacional da Fotografia e conversamos com o artista David Ceccon para falar sobre o seu trabalho. David Ceccon (1992) é um artista gaúcho que nasceu e reside em Porto Alegre –RS. Graduando em bacharelado de Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desde 2012, bolsista PIBIC-CNPq/UFRGS, desenvolve trabalhos principalmente nas áreas de gravura, pintura e fotografia. Paralelamente, estuda atuação e técnicas de expressão corporal na Escola Teatraria³. Cursou bacharelado em Letras pela mesma universidade de 2009 a 2011.

Para David, a fotografia é o meio mais acessível e mais prático hoje em dia e diferente de outros tempos não é mais exclusivo de artistas e fotógrafos. Com as câmeras automáticas e principalmente com as câmeras de celular, todos podem fotografar o que quer que seja, a hora que quiserem. Segundo o fotógrafo, “estamos mergulhados em imagens fotográficas diariamente – o facebook e o instagram não me deixam mentir. Acho que nos acostumamos com as fotografias, elas já são parte da nossa vida cotidiana. Por isso, digo que não escolhi trabalhar com fotografia. Eu apenas fotografava, por exemplo, pensando em mudar minha foto de perfil no facebook. Eu sempre gostei muito de fotografias de moda, e da ideia de encenação. Mas era algo despretensioso, não comecei a produzir essas imagens a partir de uma ideia de trabalho. Com o tempo e conversando com outros artistas, fui vendo o potencial artístico do corpo de imagens que eu produzi com o tempo, e percebi que essas fotografias tinham muito a ver com o universo poético que eu desenvolvia em outras linguagens. E a partir disso, comecei a trabalhar com a fotografia de forma mais consciente, com um direcionamento”.

Sobre o trabalho de autoretrato, David comentou sobre como iniciou seu processo e como suas vivências estão relacionadas com as fotografias. Para o artista, um dos disparadores foi seu próprio corpo. David comenta: “como eu sempre fui uma pessoa muito andrógina, e por gostar da androginia, eu sempre procurei transformar meu corpo pela fotografia a partir deste eixo. Às vezes, essa relação era de transformar meu corpo a partir de códigos culturais naturalizados como femininos – como vestidos, maquiagem, perucas – me aproximando das questões de gênero e criando uma imagem ambígua, com algum estranhamento. Outras vezes, era extrapolar essa relação e criar uma imagem em que fosse interessante por levar o corpo para outras existências, independentemente dessa classificação besta que divide a priori as existências entre “homens” e “mulheres”. Em outras fotografias, me interessa realmente a androginia e aprofundar essa ambiguidade. Para além disso, percebo meu trabalho como uma reflexão sobre identidade, sobre como um corpo pode carregar significados a partir de elementos exteriores ao corpo. Podemos nos transformar em pessoas completamente diferentes, e pela fotografia posso existir de diversas maneiras. Assim, realmente, não há identidade, mas várias identidades, não somos existências fixas, mas flutuações e explorações constantes do eu. Acho que é isso que motiva mais fortemente minha produção atualmente.”

Sem dúvida é um trabalho que experimenta conceitos que se relacionam com uma questão quase metafísica entre corpo e imagem. A fotografia é uma representação do corpo. O corpo é uma representação cultural de uma imagem criada a partir das fotografias. Como entender o que acontece entre o corpo e a imagem no momento em que nos deparamos com um trabalho como o do David? Para o fotógrafo, “a fotografia revela o corpo como uma superfície experimental. Existe um primeiro momento que é relacionado ao corpo – maquiagem, cabelo ou peruca, vestimentas, poses. Existe uma segunda parte do processo, que é o da fotografia em si, que envolve luz, enquadramento, recorte, etc. E, além da fotografia, existe a edição: os editores de imagem ajudam nesse processo experimental – a partir deles, a fotografia também se transforma. E já não é somente o seu corpo, mas a imagem se transforma em outra coisa, já é outra realidade. Assim, o meu corpo é apenas uma parte do processo. Não me sinto exposto, pelo contrário, acho que o que busco na fotografia é exatamente essa ambiguidade que existe no corpo, essas possíveis e múltiplas existências. Me sinto mais irreconhecível pela fotografia, do que o contrário.” Um trabalho que vai além de como nos vemos, e que permite que possamos nos dar conta que existem ‘vários eus’. Gere estranhamento ou identificação a fotografia é como um espelho que gera reflexões, e trabalhos como o do David, certamente propõe reflexões bem urgentes sobre as questões de gênero que muito tem sido abordadas socialmente. 

Parabéns aos fotógrafos neste Dia Internacional da Fotografia.

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