DIRETORES FALAM SOBRE A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE NO CINEMA E NA VIDA

Filipe Matzembacher e Marcio Reolon são roteiristas e diretores de Porto Alegre. Dirigiram diversos curtas-metragens e seu primeiro filme de longa duração, BEIRA-MAR, foi lançado na Berlinale 2015, sendo distribuído em dezenas de países nas salas de cinema. Em 2016 lançaram O NINHO, minissérie que percorreu diversos festivais e foi lançada no Brasil, França e Alemanha. Atualmente finalizam seu segundo longa-metragem. Alguns dos projetos produzidos pela dupla abordam a questão da diversidade sexual. Para quem acompanha a trajetória dos diretores é inevitável mencionar a sensibilidade em tratar de assuntos cotidianos, trazendo de forma simples assuntos que precisam ser debatidos.

Nesta semana em que se debate o Orgulho, conversamos com eles para entender um pouco mais do que pensam o Marcio e o Filipe fora das telas. Para os realizadores, “junho é um mês que sempre nos remete ao passado. É um mês que se comemora a diversidade e temos que entender que muita luta foi realizada, vencida e perdida para que conseguíssemos desfrutar de algum (mesmo que pequeno) espaço de visibilidade.” Por isso, afirmam é tão importante “lembrar das gerações anteriores que não contavam com redes sociais pra receber ‘like’ e botavam a cara na rua, se expondo para que hoje possamos desfrutar um pouco. Acreditamos que nós, LGBTQIA+ de hoje devemos fazer o mesmo, aproveitar e viver nossas vidas ao máximo, mas sempre direcionando nossas lutas para os plurais, os “nós” e os “eles”, pensando no hoje, nos companheiros de luta de ontem e nas novas gerações que virão.” A dupla acredita que apenas “somando todas essas vivências vamos desconstruindo padrões normativos e violentos que moldam nossa sociedade, criando assim um espaço em que realmente a diversidade seja exercida de diferentes formas, sem entrarmos em outras caixas, com um caminho aberto para explorarmos, amarmos, transarmos e sermos que quisermos.”

Além da militância diária, Márcio e Filipe trabalham com projetos que dialogam com a comunidade e que criam múltiplas narrativas e representações da mesma. Mas para eles o mais importante é “a consciência de que cada ato é político, das roupa que vestimos, os lugares que frequentamos, os amigos que nos cercam, aos políticos nos quais votamos, etc.” É preciso estar atento e perceber “que discurso todas essas decisões valorizam e favorecem? Quem está excluído?” Para Filipe, essa é a principal atividade militante de qualquer pessoa, atualmente. O movimento social (e o agente político individual) não pode viver de tabus, mas sim viver lutando por diferentes e mais dignas narrativas e vidas. “Mudemos a nós mesmos primeiro e, em paralelo, construamos juntos algo.”

Pensando na importância da capacidade de mudarmos a nós mesmos, perguntamos ao casal que obras achavam importantes para o público LGBTQIA+, ainda tão carente de representatividade. Entre autores e cineastas a dupla sugere: J. P. Rodrigues, Derek Jarman, Gregg Araki, Alan Guiraudi, Fassbinder, Céline Sciamma, Bruce La Bruce, Oscar Wilde dentre outros. Uma lista que certamente vale a pena conferir.

Nós do Alguém Avisa gostaríamos de acrescentar a esta lista o filme Beira-Mar, dirigido por Márcio e Filipe. Um filme rodado no litoral gaúcho e que certamente diz muito sobre a importância desta representatividade sobre a qual falamos. Quem quiser conferir, o filme está disponível aqui, mas é preciso ter uma conta no Netflix. O longa-metragem da Avante Filmes narra a trajetória de Martin e Tomaz Alternando entre distrações corriqueiras e reflexões sobre suas vidas e sua amizade, os garotos se abrigam em uma casa de vidro, à beira de um mar frio e revolto.

 

Confira o trailer:

Antes de encerrarmos nossa entrevista, perguntamos a eles o que achavam importante, destacar. Márcio e Filipe encerraram dizendo: ALGUÉM AVISA que: “não é na internet que ocorrerão as maiores mudanças. Ela é uma ferramenta. Vamos botar a cara no sol, nas ruas, na política, nas artes, incomodar, conversar, ir pra lugares desconfortáveis, tornar lugares assépticos desconfortáveis para o modelo violento e segregador de sociedade que vivemos. Alguém avisa que pra lutarmos por oportunidades iguais com respeito às diferenças vamos ter que suar, então que suemos em grupo.”

Quem quiser conferir outros trabalhos da dupla, pode curtir a página e ficar de olho no que eles estão produzindo.

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