EDITORIAL: É PRECISO SE ORGULHAR TODOS OS DIAS

No dia 28 de junho é o Dia do Orgulho LGBTQIA+. Data celebrada e lembrada mundialmente, que marca um episódio ocorrido em Nova Iorque, em 1969. Naquele dia, as pessoas que frequentavam o bar Stonewall Inn, decidiram reagir a uma série de batidas policiais que eram realizadas ali com frequência. O levante contra a perseguição da polícia às pessoas LGBTQIA+ durou mais duas noites e, no ano seguinte, resultou na organização na 1° parada do orgulho LGBT, realizada no dia 1° de julho de 1970, para lembrar o episódio.

Há quem pare para assistir uma Parada e acredite que já não exista mais preconceito, que não haja necessidade de um dia para o orgulho, são inúmeras as desculpas para não admitir que o preconceito contra as diversidades é real e mata muitas pessoas.

Esta coluna hoje tentará responder a pergunta: Por que sentimos orgulho? Orgulho para nós é sinônimo de amor próprio, e acreditem não é fácil de construí-lo quando somos desencorajados diariamente. Por isso hoje escolhi contar a minha história, certamente ela não é a mais triste, mas acredito que dividir esta história é como sair do armário outra vez. Me dei conta disso quando outro dia me disseram algo como: – Mas tu tá bem, nunca te fizeram nada.

Fizeram sim. Eu lembro de com pouco mais de 5 anos ter sido repreendido, me disseram: – Não rebola, tu estás parecendo uma menina. (hoje teria amado) Logo no colégio não me adequava, não gostava de jogar futebol, ou seja: – VIADO! Há quem diga que isso é coisa de criança. Não! Isso é coisa de adulto que ensina as crianças a pensarem assim. Mas isso não vem ao caso, quando contamos que nos chamam ou chamaram de GAY no colégio, sempre parece algo corriqueiro, mas não é. Durante anos, diariamente, me fizeram acreditar que eu não deveria me orgulhar de quem eu era. O colégio passa (para alguns, muita gente desiste nesta época já) e aí vem a vida real. É realmente diferente, parece menos pesado, nos aproximamos de pessoas com mais afinidades, mas também nos tornamos seres sociais. Com 17, 18 anos começaram as violências físicas. Numa das primeiras festas que eu fui, lembro de um amigo ter apanhado de outros jovens (de classe média – para não deixar dúvidas). Chamamos a polícia que nos respondeu: – Vocês pediram, ficam aqui na rua, chamando atenção. A gente vai acostumando outra vez, começa a ver isto com certa naturalidade. Desde então se passaram mais de 10 anos e afirmo que 80% dos meus amigos já apanharam desde então.

Tem a família ainda. A minha foi maravilhosa, mas isso não torna menos fácil contar. Acredito que a maioria das pessoas passa por situações do tipo: – Queria que tu fizesses direito, medicina, engenharia. Mas inevitavelmente o olhar dos nossos pais, logo que nos assumimos, diz: – Preferia que fossem héteros. Tem os restaurantes que nos pedem para não segurar a mão do ‘boy’, tem o pai daquele namorado que não quer te conhecer, tem aquela tia que apresenta teu namorado de 5 anos como teu ‘amigo’, tem aquele carro que passa gritando e te chamando de VIADO (para quem acha que isso é bobagem, acontece no mínimo uma vez por mês). Isso sem falar nas congregações religiosas, no trabalho, nas redes sociais, nas festinhas de família quando brincam entre si, às vezes até sem maldade, dizendo “isso é coisa de viado”.

Resumindo, fazem mais de 25 anos que a sociedade tenta me convencer que é errado ser como eu sou, que eu não deveria ser assim, que isso não é ‘normal’. Então me desculpa, mas uma vez por ano (no mínimo), eu vou sim me orgulhar e MUITO de ser quem eu sou, e se você não gostar, fica tranquilo, já estou BEM acostumado. # EUSOULGBTQIA+

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